segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
Abraços partidos - Pedro Almodóvar
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Literaterapia
domingo, 1 de novembro de 2009
Minhas aventuras pela literatura latino-americana
Até bem pouco tempo atrás, meu conhecimento da literatura latino-americana resumia-se a Gabriel Garcia Márquez. Desde que fui apresentada aos maravilhosos "Cem anos de solidão", fiz como todos os apaixonados: corri atrás de mais, mais do mesmo. Li várias de seus livros. Emprestei alguns, comprei outros.
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Mais estranho que a ficção - Marc Foster (2006)
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
Ficções - Jorge Luís Borges - Abril Cultural, 1972
sexta-feira, 3 de julho de 2009
A viagem do elefante de José Saramago
Para começo de conversa, é Saramago. E se tratando dele, até quando não é excelente, é muito bom.
segunda-feira, 8 de junho de 2009
Algum dia - Peter H. Reynolds
sábado, 6 de junho de 2009
Os diários de leitura
Desde o começo dessa aventura, mencionei que os diários eram uma proposta que seria incorporada ao Projeto Letras de Luz: iniciativa da qual faço parte com muito orgulho e convicção.
Entre os meses de março e abril fizemos a primeira oficina com os professores de algumas cidades de quatro estados brasileiros: São Paulo, Espírio Santo, Tocantis e Mato Grosso do Sul.
Falamos sobre propósitos e comportamentos leitores, sobre nossos gostos literários, sobre os desafios que devíamos nos impor ao longo do trabalho desse ano.
Como todo primeiro encontro, o clima foi de encantamento mútuo e vontade de trocar idéias, de partilhar sonhos e projetos comuns.
Confesso que fiquei bastante ansiosa por saber as impressões que as discussões que provocamos poderiam trazer. E com muita alegria pude constatar que a segunda oficina foi um verdadeiro encontro com as histórias. As nossas, as dos livros, as dos colegas, as do mundo...Palavras povoaram nossa sala.
Começamos com os Diários de leitura. Capas cheias de criatividade e conteúdo repleto de comentários sobre as mais diversas experiências leitoras. Alguns fizeram suas próprias reflexões sobre livros que descobriram nesses meses, como as crônicas de Rubem Braga. Outros criaram várias reflexões sobre o ato de ler, registrando-as por meio de colagens. Alguns preferiram copiar as citações, poemas, fragmentos que marcaram sua experiência leitora. Houve quem começasse listando os livros que leu, os que gostaria de ler, os autores favoritos etc. Muitos fizeram os diários das leituras feitas com os alunos. Páginas povoadas de recortes de jornal, receitas, contos, artigos, poemas. Dedicando esse momento para a leitura, descobrimos que ela está presente em todo lugar e pode ser experimentada sempre que ousarmos abrir espaço em nossas vidas para que as palavras sejam soberanas.
Discutimos sobre a importância das histórias na construção de nossas identidades. Somos aquilo que contamos.
O vídeo “Histórias” nos mostrou que povos do mundo inteiro já estiveram e estão ao redor do fogo, narrando acontecimentos fantásticos ou suas próprias epopéias diárias. E com isso, se aproximam, se aconchegam e se reconhecem humanos.
Ouvimos o “Apelo” de Dalton Trevisan nas vozes de diferentes colegas. Notamos que, embora as palavras sejam iguais e na leitura de um texto escrito prevaleça a fidelidade à forma como o autor se expressa, é em nossa entonação, em nossa relação com o texto que deixamos nossa marca para aqueles que nos ouvem.
Reconhecemos que o contar nos expõe: testa nossa memória, nos põe em contato direto com o grupo, abre-se para o gesto, para o tom coloquial e para a improvisação. Narramos e somos narrados a todo momento.
Houve também espaço para o jogo, para o riso solto. Para a palavra que ganha vida a partir da encenação. Muitos participantes experimentaram, pela primeira vez, a delícia da leitura dramática e a força do diálogo na construção de sentidos de uma cena. Por alguns momentos, pudemos ser Chicó, João Grilo, Padre João, o Padeiro, Major Antônio Morais, a Gorda, o Puxa, a Professora de Ciências e tantos outros personagens. Mais uma vez, o verbo foi soberano.
E notei que muitos saíram descobrindo-se contadores. Percebendo a importância de trazer de volta as narrativas. Reconhecendo a necessidade do planejamento, da escolha consciente, do preparo, da sensibilidade para estabelecer uma conexão com o grupo e resgatar a “arte de contar histórias”. Um ofício que pode ser acessado por todos aqueles que estiverem dispostos a deixar que a palavra esteja sempre presente em nossas experiências.
Mal posso esperar pelo terceiro encontro para saber sobre as histórias que foram contadas, os textos que foram lidos e as peças que foram levadas ao palco.
Com certeza, as vozes da escrita serão ouvidas muito longe...
segunda-feira, 4 de maio de 2009
Últimas leituras
sexta-feira, 24 de abril de 2009
Descobrindo mais sobre o mundo da leitura de imagens
Uma das vantagens de se fazer o que se gosta é quando seu trabalho também oferece a possibilidade de realizar as coisas com prazer.
Trabalhando com leitura, os livros são parte da minha vida. Uma parte fundamental.
Nos últimos meses, as postagens ficaram mais distantes aqui nesse espaço, justamente porque estive me aventurando pelo universo das imagens e elaborando uma das apostilas do projeto.
Seguem agora alguns comentários sobre os "queridos amigos", como diria Petrarca, que me acompanharam nessa jornada:
O outro lado. Istvan Banyai. São Paulo: Cosac Naify, 2007.
Este é um livro que diz muito – sem usar uma palavra sequer. O autor, Istvan Banyai, é artista gráfico dos bons, perito em narrativas com imagens. Logo na primeira página, uma menina observa da janela um aviãozinho de papel voando lá fora. De onde ele vem? Ao virar a página, um garoto do apartamento de cima se diverte arremessando as dobraduras. Assim o livro segue, sempre com uma cena que se transforma na próxima página, despertando nossa curiosidade para folhar este livro-imagem em busca de um outro ponto de vista.
Depois de ZOOM e Re-ZOOM, achei que esse cara não me surpreenderia mais. Engano meu. O livro é uma delícia e, como os anteriores, surpreende pela simplicidade do traço e profundidade das relações entre as imagens.
Modos de ver. Joh Berger. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
Modos de ver é composto por sete ensaios que podem ser lidos em qualquer ordem, sendo que três deles usam apenas imagens. Ao todo, são utilizadas 155 reproduções de obras que hoje pertencem a acervos de importantes museus da Europa. Apesar de ser estruturado a partir de ponderações sobre a História da Arte, o livro transcende a sua função de pensar a questão estética e acaba fazendo o leitor refletir sobre a sua visão de mundo.
Meu ensaio favorito é o que fala sobre a representação da mulher nos quadros e na fotografia. O autor afirma que, diferentemente do homem, nas imagens estamos sempre dirigindo nosso olhar a um possível observador. Nos arrumamos, nos mostramos e nos exibimos não por uma questão funcional, mas, porque fomos educadas para a exposição. Para pensar...
Dá-lhe Will Eisner
Narrativas gráficas: princípios e práticas da lenda dos quadrinhos. Will Eisner. São Paulo: Devir, 2008.
A obra discute os princípios da narrativa com a combinação sofisticada de texto e imagem. Apresentando exemplos utilizados na prática pelo próprio autor, além de artistas como Art Spieglman, All Capp, Milton Caniff e Robert Crumb, entre outros este tratado abrange as etapas da narrativa gráfica até uma visão mais ampla de suas aplicações. Embora as histórias em quadrinhos sejam o seu alvo principal, 'Narrativas Gráficas' também revela e ensina métodos que podem ser aplicados no cinema, na TV e na internet.
Um delicioso manual para quem curte o universo dos quadrinhos, escrito por um dos grandes mestres dessa arte. Bom para consultar e ter sempre ao lado, na cabeceira da cama.
Quadrinhos e arte seqüencial. Will Eisner. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
O livro baseia-se no curso que o autor ministrou por muitos anos na School of Visual Art de Nova Iorque e contém o acervo de suas idéias, teorias e aconselhamentos sobre a prática daquilo que ele conhece tão bem - contar histórias em quadrinhos.
Esse eu achei também interessante, mas, seu foco é mais didático. O autor pretende ensinar os leitores sobre como produzir esse tipo de texto. Novamente, o uso das relações entre palavra e imagens é primoroso.
A cor como informação: a construção biofísica, lingüística e cultural da simbologia das cores. Luciano Guimarães. São Paulo: Annablume, 2000.
Por exemplo, descobri que o vermelho é uma cor que chama nossa atenção porque seu comprimento de onda é o maior de todas as que conhecemos. Interessante, não?
O livro apresenta capítulos que abordam o tema em sua complexidade, mostrando considerações que esclarecem e enriquecem o repertório de todos aqueles que utilizam a cor na comunicação. Da exata delimitação da cor como informação cultural e suporte para a expressão simbólica na comunicação humana até a investigação dos processos de percepção e seus 'comportamentos' para a geração de sentido, o autor expõe um universo interdisciplinar, ancorado no que há de mais recente na bibliografia da Semiótica da Cultura e das Ciências da Cultura.
Lendo Imagens. Alberto Manguel. São Paulo: Cia das Letras, 2001.
Neste livro, Manguel passa ao largo do vocabulário árduo da crítica e defende a idéia de que os não-especialistas têm o direito de ler imagens como quem lê um texto. O autor narra histórias que se ocultam em pinturas, esculturas, fotografias e projetos arquitetônicos desde a Roma antiga até as arrojadas experiências da arte do século XX.
Ainda não li todo. Mas, como em sua outra obra História da Leitura é uma delícia acompanhar todas as informações dadas pelo autor através de sua narrativa fluente, cercada de ricas imagens e curiosidades sobre o tema.
O que é qualidade em ilustração no livro infantil e juvenil: com a palavra o ilustrador. Ieda Oliveira (org.) São Paulo: DCL, 2008.
Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula. Angela Rama e Waldomiro Vergueiro (orgs.).São Paulo: Contexto, 2008.
Nesse livro, os autores provam que os antigos preconceitos com as histórias em quadrinhos não têm nenhum fundamento. Por meio de exemplos práticos e muitas sugestões de atividades, o livro inspira inúmeras possibilidades de trabalho com as HQs em diferentes disciplinas.
Confesso que gostei mais das sugestões para a área de Linguagem. Mas, achei também bem interessante o uso que alguns autores fizeram desse texto em outras disciplinas.
A leitura dos quadrinhos. Paulo Ramos. São Paulo: Contexto, 2009.
O autor esmiúça os principais pontos da linguagem, dos mais básicos, como os diferentes formatos do balão, até aspectos mais complexos, como as estratégias de movimentação dos personagens e o papel da cor. O livro também dá detalhes as características dos diferentes gêneros que compõem os quadrinhos, como as tiras, o cartum, a charge e outras variadas formas de produção dessa forma de arte. Um guia bem feito para quem deseja conhecer mais e aprofundar sobre o tema.
Palavra e imagem: leituras cruzadas. Ivete Lara Camargos Walty, Maria Nazareth Soares Fonseca e Maria Zilda Ferreira Cury. Belo Horizonte: Autêntica
As palavras gerando imagens e as imagens gerando textos verbais, num processo de deslocamentos e condensações, metonímias e metáforas são, pois, o objeto desse livro que se propõe a instigar leituras críticas, em tempos e espaços diversos. Tradição e ruptura se articulam na prática de leitura tematizada na casa e na terra, com que as autoras ilustram suas reflexões teóricas, associando poemas, crônicas, notícias de jornal, letras de músicas, fotos, propagandas ilustrações.
terça-feira, 21 de abril de 2009
AUTHORITY "SEM PERDÃO" e "SOB NOVA DIREÇÃO" - de Warren Ellis e Bryan Hitch
Imagine uma equipe de super-heróis diferente de tudo o que você conhece?
Ouse pensar em um grupo de pessoas que decide colocar "a casa em ordem" doa a quem doer.
Suponha que esse time seja liderado por uma mulher (Jenny Sparks) que representa o espírito do século. Nasce, morre e renasce a cada cem anos.
Uma pessoa para quem o altruísmo dos super-heróis não pareceu suficiente para resolver os problemas da Terra, até o momento.
Para ajudá-la a seguir a diretriz "vilão bom, é vilão morto", nada menos do que um casal de super-poderosos gays (Apolo e Meia-Noite), uma mulher que pode criar tudo a partir da linguagem dos metais e das máquinas (Engenheira), um homem capaz de conversar com as cidades (Jack Hawksmoore), uma caçadora alada (Swift) e um xamã que traz consigo a sabedoria ancestral, ironicamente chamado de Doutor.
Pouca conversa. Nada de longas explicações. A partir de agora, SEM PERDÃO.
Numa Terra ameaçada por terroristas, eles decidem assumir o papel de uma autoridade superior e dar início a um processo de mudança que não terá mais volta. E quando a força criadora, que deu origem à vida da forma como conhecemos resolve pedi-lo de volta, tentando eliminar 6 bilhões de seres humanos que estão "infectando" o planeta, os caras simplesmente resolvem matar esse ser que é o mais próximo do que poderíamos chamar de deus.
Daí em diante, a Terra estará SOB NOVA DIREÇÃO!
Quem nunca fantasiou em ter super-poderes e nas infinitas possibilidades que isso nos traria, que atire a primeira pedra.
Bom texto. Deliciosas tiradas de humor e imagens maravilhosas.
Material de primeira para quem curte histórias em quadrinhos e anda sentindo falta de "um sopro de ar fresco" nesse universo de tramas requentadas e mais do mesmo.
segunda-feira, 13 de abril de 2009
Muita pipoca!!
Mas, por que nenhuma anotação no diário?
Simplesmente porque o ritmo foi frenético e a quantidade de informação processada não encontrava tempo para ser digerida e exposta.
Mas, prometo recuperar o tempo perdido!
Comecemos pelos filmes:
O LEITOR de Stephen Daldry
DÚVIDA de John Patrick Shanley
CORALINE de Henry Selick , baseado na obra de Neil Gaiman.
WATCHMEN de Zack Snyder
QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO ? de Danny Boyle
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
Uma história contada em quadros.
Desde criança minha vida foi sempre contada em quadros.
Filha e neta de fotógrafos, em minha família, cada passo, cada conquista, cada novidade, muitos dos instantes mágicos que marcaram a misteriosa passagem do tempo foram apreendidos pelas tantas objetivas que passaram pelas mãos dos meus pais.
Nas prateleiras e armários da sala, guardados como relicários estavam nossos álbuns com uma breve cronologia em imagens de tudo o que quiseram preservar da nossa história. E foram vários álbuns!
Curiosamente, a “leitura” desses livros seguia um roteiro já bastante conhecido: cada imagem apresentada era seguida das narrativas que contavam sobre os personagens fotografados, o passado e o futuro dos instantes registrados. Histórias tantas vezes contadas que pareciam ter abandonado aquilo que chamamos de mundo real.
Nas paredes, outros momentos foram pendurados... Fragmentos de um tempo que queríamos elevar, suspender, eternizar, fazer memória: batizado, primeiro dia de aula, festas escolares, primeira comunhão, dentes caídos, dentes nascidos, os cortes de cabelo, a brincadeira com a roupa da mãe, crisma, 15 anos, viagens, cenas do cotidiano, os espetáculos encenados pouco antes do Jornal Nacional, nossos tantos aniversários, as corridas de bicicleta na rua, os joelhos machucados, os casamentos, os nascimentos...
Ao ver e contemplar todos os dias essas tantas fotografias, aos poucos fui sentindo que parte da minha vida já havia sido, irremediavelmente, evadida para o mundo da fantasia...
Talvez por isso o salto para os contos de outros universos tenha sido apenas conseqüência de uma certa curiosidade sobre o que se escondia além das minhas próprias aventuras.
Primeiro os contos de fadas e os textos bíblicos lidos por minha mãe ao pé de três camas e de um pequeno berço. Ambos seguidos por imagens coloridas preenchidas com tudo o que nossa imaginação tão rica em sonhos quisesse acrescentar.
Depois, a descoberta da semelhança entre as minhas aventuras e a de uma outra turminha do bairro do Limoeiro. Um “namoro” que durou longos anos, com pilhas e pilhas de gibis guardados dentro de um baú na cabeceira da cama. Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali, Horácio, Tina, Chico Bento, Rolo, Piteco e o Astronauta foram responsáveis por me incutir o vício da leitura antes de dormir. Não havia possibilidade de sonho se não fosse precedido por alguma história, mesmo conhecida, já tantas vezes lida nas revistinhas da minha extensa coleção.
As brincadeiras com os clássicos da literatura universal, o resgate do folclore brasileiro, as metáforas, o uso contínuo da metalinguagem em alguns desses quadrinhos foram a porta de entrada para muitas outras leituras.
Então vieram as personagens da Disney: Pato Donald, Margarida, Mickey, Tio Patinhas, Pateta e tantos outros. Esses ficaram por pouco tempo. O colorido me parecia confuso e, para mim, faltava mais humor e coerência a algumas histórias.
O grande salto foi o encontro com o maravilhoso mundo dos super-heróis. Nas revistas cultuadas por meu irmão mais velho, a aventura da transgressão em invadir seu quarto e ler às escondidas suas histórias era apenas o prelúdio dos universos que se abririam para mim.
A sensualidade presente na representação da figura feminina, os arquétipos revividos nas entrelinhas das sagas de alguns heróis e a ansiedade pela espera da continuidade das narrativas foram o ingrediente que faltava para que minha paixão pelas imagens e suas histórias se consolidasse.
Primeiro “Super-Homem” e sua soberba diante da humanidade. Depois “Homem-aranha” e seus vilões cercados de temas científicos. A deliciosa escola do Professor Xavier e seus alunos repletos de poderes que sempre desejei possuir. A corajosa e, quase sempre, indestrutível “Liga da Justiça”.
Esses heróis me levaram a uma das mais deliciosas experiências literárias da minha juventude: a descoberta da mitologia grega. Foi por eles e com eles que li e reli toda a coleção das Aventuras Mitologógicas disponível na biblioteca da escola onde cursei o ensino médio.
Suas aventuras passaram a ser minhas. As experiências vividas pelas personagens dessas histórias fazia parte das conversas que tinha com meu irmão e, muitas vezes, os acontecimentos de cada revista eram relatados por nós como se tivessem ocupado a primeira página de algum grande jornal dominical, afinal, lá nos EUA tentaram matar o Super-Homem e parecia pouco provável que o Professor Xavier e seus alunos não conseguissem derrotar os próximos vilões!
De todos os heróis dessa fase, Batman foi o que mais impacto me causou. Talvez porque meu interesse por essa personagem tenha coincidido com a fase da vida em que muitos dos meus valores foram postos à prova. O momento em que dolorosamente comecei a perceber que os heróis de verdade não existiam e, que se existissem, teriam grandes conflitos como nós. Foi o fim da infância. Mas, não da fantasia.
Com os heróis vieram as tiras do cotidiano: Calvin e Haroldo, Garfiel, Niquel Náusea, Angeli, Snopy, Mafalda, A turma do Xaxado e tantos outros lidos diariamente no jornal após uma breve consulta aos astros nas previsões do horóscopo.
Por um bom tempo houve um hiato entre o meu mundo e o universo dos quadrinhos. Eles estavam lá, nas leituras das horas vagas, em algumas conversas com amigos, mas deixaram a cena principal e viraram meros coadjuvantes. Outras leituras ocuparam minha vida. Fui eu mesma em busca das minhas próprias imagens, resgatando o desejo de manter a tradição da fotografia na família.
Por ironia do destino, foram essas mesmas imagens que me aproximaram de um fotógrafo apaixonado por quadrinhos. Com ele fui apresentada a uma coleção repleta de grandes amostras da alta qualidade poética e gráfica desse gênero: da deliciosa biografia do Buda de Osamu Tesuka à violenta saga de “Preacher”, do sangrento “V” de vingança” ao sensual “Garotas perdidas”, do histórico “300 de Esparta” à onírica saga de “Sandman”...
Heróis outrora abandonados também voltaram com esse encontro: Batman, Superman, X-Men... e com eles, a construção de uma deliciosa relação sempre mediada pelo mundo da leitura.
Embora nossos caminhos tenham seguido rumos diferentes, nada seria igual depois desse resgate. Pessoas, assim como histórias, desenham marcas, levam e trazem coisas à nossa vida. Muitas vezes, como nesse caso, elas apenas retomam paixões que estavam esquecidas.
Em meio a tantas palavras e imagens que povoaram minha memória, minha história foi e continua sendo escrita quadro a quadro. Traço algumas linhas do roteiro e tenho, raramente, a sensação de que possuo algum controle sobre a obra. O resultado quase sempre causa surpresa, estranhamento, alegria, medo e muitas outras emoções que desconheço. Mas, isso nunca me impediu- e espero que nunca me impeça - de virar a página e experimentar intensamente o que virá.
Texto escrito para o curso "A póetica dos quadrinhos", ministrado por Reynaldo Damázio na Casa das Rosas
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
Foi apenas um sonho
O que caracteriza uma boa história?
Não sei. Mas, para mim, as melhores narrativas são aquelas que nos fazem olhar a vida de uma nova forma. Que mexem com nossas certezas, trazendo-nos algum tipo de perturbação.
Se for assim, Revoltionary Road - que assisti ontem - é um ótimo exemplo de bom texto, aliado ao excelente trabalho de alguns atores e um diretor que sempre tem algo a nos dizer.
(Recuso-me a usar o título em português, repleto de interpretações e de respostas fáceis às perguntas dificílimas que o longa propõe.)
Confesso que durante a exibição senti no ar um certo incômodo entre os presentes. Estranhei os risos nervosos em resposta aos diálogos ácidos entre as personagens.
As pessoas mudavam de lugar, prendiam a respiração... Talvez com medo de aspirar a verdade gritada a plenos pulmões.
E como é difícil dar voz a lucidez da loucura!
Impossível assisti-lo sem sentir um "nó na garganta" frente aos dilemas do casal e às questões que o "american way of life" ainda tão presente em nossa cultura nos provocam.
Duas pessoas se encontram, cheias de sonhos. Casam, têm filhos, compram uma casa, obtém o seu sustento e ...
Quantos de nós já não nos perguntamos se as escolhas que fazemos são resultado de nossa vontade ou apenas uma resposta aos modelos que fomos levados a crer que deveríamos seguir?
Quantas vezes fomos capazes de olhar a nossa vida e tivemos coragem de procurar resquícios dos sonhos que tivemos anos atrás?
Quantos nos aventuramos a buscar as respostas possíveis às nossas verdadeiras inquietações?
Não sei.
Levarei um bom tempo para digerir esse filme.
Revolutionary Road, EUA, 2008. Dire: Sam Mendes. Com: Kate Winslet, Leonardo DiCaprio e Kathy Bathes. Estréia em 30 de janeiro.
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
Diário de um apaixonado - Sintomas de um bem incurável - Fabrício Carpinejar - Mercurio Jovem
Um dos problemas de ser apaixonada por leitura é a atração irresistível que as livrarias exercem sobre a gente.
Comigo é sempre assim: entro para ver. SÓ PARA VER. E sempre, SEMPRE saio com alguma coisa.
Algumas vezes, chego com um interesse específico. À procura de um determinado título e, até encontrá-lo, já descobri muitos outros e lá se vai mais um livrinho!
O problema é que eles colocam tudo ali: à disposição. Fácil, fácil. Como doces, deliciosas sobremeses (para quem gosta delas). Aí complica.
Foi assim que encontrei esse livro: "Diário de um apaixonado - Sintomas de um bem incurável", sorrindo, maliciosamente, para mim lá de uma das prateleiras da tentadora seção de livros infantis da Livraria Cultura.
Além do título, chamou minha atenção o autor: Fabrício Carpinejar.
Há muito tempo atrás fui apresentada ao seu blog pela Dé, irmã da Cris Tavares. E adorei os seus textos.
No caso desse livro, o tema é desafiador e o risco de cair no clichê é grande.
Mas, não é o que acontece.
Fabrício define alguns comportamentos desse estado de um jeito divertidíssimo. Me identifiquei com muitas delas:
"O apaixonado é um comovido à toa."
"Ele larga seus hábitos,para conhecer verdadeiramente quem ele gosta. Faz greve de sua personalidade." (E não é verdade?)
"O apaixonado faz de conta que não está amando para se surpreender com a notícia."
"...por que os apaixonados saem para jantar se não comem?"
"O homem está apaixonado quando explica sua infância. A mulher quando não fala mais dela."
"Passa a se amar menos, para que o amor-próprio não rivalize com sua paixão". (Essa é ótima)
"Todo apaixonado sofre de prisão de ventre."
"O celular do apaixonado está fora da área de cobertura ou desligado."
E a mais deliciosa de todas:
"O apaixonado gosta de saber se o par está sentindo o que ele está sentindo, mas precisa ser igualzinho." (Essa é para nós, mulheres.)
Para ler, rir e desejar a paixão sempre.
terça-feira, 20 de janeiro de 2009
O curioso caso de Benjamin Button
Tem dois dos melhores atores dessa geração- Cate Blanchett e Brad Pitt - em atuações maravilhosas, um roteiro sensível e bem amarrado.
Baseado em um conto homônimo de F. Scott Fitzgerald, o caso é realmente curioso.
Mas, para mim, a história vai muito além disso.
Em todas as matérias que li sobre a obra, os críticos fizeram questão de ressaltar a duração do filme. Sim, são 166 minutos.
Já não se fazem mais longas assim...
Engraçado.
O tempo é justamente o mote do enredo.
Saí do cinema emocionada. (Ultimamente, tem sido assim. E tenho achado ótima essa mudança.)
A história é linda. É contada a partir das inúmeras personagens que cruzam a vida do protagonista.
Mostra que os fios da nossa narrativa são tecidos em meio a tantos encontros e desencontros. E são as relações que construímos que dão forma à nossa existência.
O curioso caso de Benjamin Button poderia ser a experiência de qualquer um de nós. Exceto pela excentricidade de se ter 80 anos ao nascer.
Como alguém muito sábio já disse: "leva-se muito tempo para tornar-se jovem..." E, em alguns casos, como no de Benjamin, muito anos se passam até que essas duas grandezas tão contraditórias - tempo e amor - possam, finalmente, se encontrar.
A princípio, pensar na idéia de rejuvenecer com o passar dos anos parece bastante sedutor.
Só que a gente esquece que o grande lance não é mudar a direção do tempo. Mas, controlar sua intensidade. E talvez seja mais simples do que parece.
Como a gente faz isso? Não sei.
Para o protagonista, algumas pessoas são artistas, outras são atingidas por raios e outras, para experimentar toda a intensidade da vida, simplesmente, dançam.
O Curioso Caso de Benjamin Button - Assisti em 20 de janeiro de 2009.
(The Curious Case of Benjamin Button , EUA 2008 / Brasil 2009 - 166 min)