sábado, 5 de março de 2011

Quando a literatura nos salva...

Já ouvi dizer que quem lê demais está fugindo da realidade. E talvez seja isso mesmo.
Antônio Cândido disse uma vez que é preciso um pouco de fantasia para nos manter sãos. Por isso, a literatura deveria ser um dos direitos fundamentais do ser humano.
Muitas vezes já me vi procurando nas palavras impressas aquilo que me faltava. E sempre fui recompensada. Ou porque tenha me reconhecido nos dramas vividos pelos personagens ou porque tenha encontrado respostas para perguntas que sequer haviam sido feitas.
Em alguns casos, a leitura não me trouxe nenhuma epifania. Apenas fez-me passar o tempo e desligar do mundo quando esse me pareceu duro e real demais para ser suportado com lucidez. 
Uma boa experiência nesse sentido ocorreu recentemente com a descoberta da Trilogia Milennium do sueco Stieg Larsson. Desde o contato com o primeiro volume da série (Os homens que não amavam as mulheres), o mergulho no universo sombrio e inteligente do autor revelou-se uma aventura da qual foi praticamente impossível fugir sem avançar de um livro para outro.
Além de personagens interessantíssimos, como em um bom suspense, a trama revela-se aos poucos e surpreende-nos a cada página com novas perguntas que vão sendo respondidas sem, no entanto, revelar o mistério principal.
Na última semana, fui salva pelo segundo volume da série (A menina que brincava com fogo). Devorei-o em apenas três dias. Precisava de um outro lugar para visitar enquanto "nesse lado de cá"a vida vinha sendo feita de espera, angústia e medo. Muito medo. 
Recentemente, ouvi dizer que há uma tendência grande a escolhermos o sofrimento. Mesmo quando ele apenas faz parte da nossa fantasia. E estamos tão viciados nesse movimento que o caminho da serenidade, da paz e da alegria parece uma ofensa à infelicidade coletiva.
Talvez, a literatura possa nos ajudar a subverter essa ordem.
No caso do mergulho nessa obra, foi um prazer imenso transferir a dor e angústia para o mundo da fantasia e, enquanto isso, renovar na "vida real" a fé, a crença nas forças que desconhecemos e a esperança nos milagres que acontecem quando o amor predomina.
Para ler e não deixar até o último ponto final.

5 comentários:

  1. Sobre a trilogia citada acima,
    Também li e assino em baixo quanto ao que é dito sobre a ""fuga".
    Sempre nos escondemos atrás de algo quando a vida exige muito mais de nós do que pensamos estar preparados. comigo também foi assim, fugi dos livros indicados pelos professores, para ler nas férias. "O que que é isso"?
    Recomendo para quem estiver a fim.
    Parabéns Denise, por ter dito o que eu não soube dizer da trilogia, mas assino em baixo.
    Com um cheiro, Socorro.

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  2. Oi Denise!!
    Gostei muito da proposta do blog!!
    E do post...
    Me identifico com isso de ler para fugir dessa realidade às vezes dura, às vezes crua, às vezes cruel...
    Um beijo.
    Patricia Costa.

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  3. Denise, sobre seu post posso citar uma frase do Ferreira Güllar "Quando a vida entrou em conflito, eu escolhi a Literatura." Essa citação está anexada até no moral da biblioteca q sou responsável. E sim,infelizmente a gente escolhi o sofrimento. Diga - me o q tu lês e eu direi quem tu és! Rs!
    Forte abraço.

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  4. Oiiii Dê....
    Iniciei a leitura do livro "A menina que roubava livros". Choro, praticamente, em todas as páginas. Choro pelas crianças que viveram em épocas de guerra, e em especial pela personagem Liesel, que precisava achar formas de se convencer do sentido de sua existência, e uma delas, foi a leitura. Portanto, com toda a certeza, ela lia para fugir da sua realidade.
    Beijos minha querida, e até mais!!!!
    Margarete Pezzo

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  5. Margarete, querida!
    A literatura por meio das palavras nos dá o direito humano universal à fantasia. Ainda bem que há outros mundos possíveis com os quais podemos entrar em contato por meio dos livros. Sem esse toque de fantasia, não poderíamos criar e ousar ser o que verdadeiramente somos.
    Beijos e obrigada pela visita!!

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