É certo que desde sempre se diz que brasileiro não tem memória. E disso a gente não esquece.
Saí do cinema nesse fim de semana pensando sobre esse clichê...
Não cheguei a nenhuma grande conclusão mas, penso que temos memória, sim. Ela é apenas seletiva. Cabe-nos, no entanto, perguntar: quem decide o que permanece guardado conosco?
Que Chico, Caetano e Gil estiveram em festivais na década de 60, todos sabem. Que esses poetas maravilhosos fizeram de suas músicas verdadeiros atos de resistência à ditadura, também já ouvimos falar.
E o que dizer de um grupo de 13 homens contemporâneos ao regime que resolveram também fazer da arte um tributo à vida? Aliás, "Nem homem. Nem mulher. Gente." Pessoas que com seus corpos e mentes lindos, ágeis e irreverentes fizeram do palco espaço de catarse, inquietação e libertação?
Esses foram os Dzi Croquettes.
Mesmo que nunca tenhamos ouvido falar esse nome, as referências às criações desse grupo estão presentes no trabalho de muitos artistas contemporâneos que admiramos. Desde o visual escandaloso (vejam se a imagem não lembra algum show do Ney) até as expressões coloquiais que empregamos com humor em nosso cotidiano ("Tá boa, santa?"), o filme revela o quanto uma obra de arte, quando genuína, permanece independentemente das resistências que encontra em seu tempo.
Em uma sociedade que procura sempre nos enquadrar em determinados papéis, os Dzi Croquettes não se encaixaram em nenhuma definição. Pelo contrário: foram (e ainda são!) pura ousadia. Revelando as múltiplas possibilidades da sexualidade humana, mostrando que podemos ir além do que pode ser estabelecido como feminino e masculino e sendo essencialmente verdadeiros com seus desejos, eles arrastaram multidões aos seus espetáculos, primeiramente no Rio de Janeiro, depois em São Paulo e daí para o mundo!
Impossível acompanhar a história narrada no filme sem nos questionarmos sobre as escolhas que fazemos e o quanto de nossa verdade pode ser revelada nas coisas que criamos.
Quanto vale buscar aquilo que somos sem nos atermos aos modelos estabelecidos como únicos sonhos possíveis?
Desejamos nossos desejos ou aqueles que nos foram impostos por anos de uma vida social cada vez mais engessada e limitadora da plenitude humana?
O que de fato queremos?
A trajetória dos Dzi Croquettes não nos dá essas respostas. Talvez porque eles, rindo, cantando e dançando no palco e na vida estivessem apenas interessados em descobrir suas próprias perguntas e em eternizar-se, quem sabe, virando PURPURINAS...
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