sexta-feira, 24 de abril de 2009

Descobrindo mais sobre o mundo da leitura de imagens

Uma das vantagens de se fazer o que se gosta é quando seu trabalho também oferece a possibilidade de realizar as coisas com prazer.

Trabalhando com leitura, os livros são parte da minha vida. Uma parte fundamental.

Nos últimos meses, as postagens ficaram mais distantes aqui nesse espaço, justamente porque estive me aventurando pelo universo das imagens e elaborando uma das apostilas do projeto.

Seguem agora alguns comentários sobre os "queridos amigos", como diria Petrarca, que me acompanharam nessa jornada:

 

O outro lado. Istvan Banyai. São Paulo: Cosac Naify, 2007.

Este é um livro que diz muito – sem usar uma palavra sequer. O autor, Istvan Banyai, é artista gráfico dos bons, perito em narrativas com imagens. Logo na primeira página, uma menina observa da janela um aviãozinho de papel voando lá fora. De onde ele vem? Ao virar a página, um garoto do apartamento de cima se diverte arremessando as dobraduras. Assim o livro segue, sempre com uma cena que se transforma na próxima página, despertando nossa curiosidade para folhar este livro-imagem em busca de um outro ponto de vista.

Depois de ZOOM e Re-ZOOM, achei que esse cara não me surpreenderia mais. Engano meu. O livro é uma delícia e, como os anteriores,  surpreende pela simplicidade do traço e profundidade das relações entre as imagens.

Modos de ver. Joh Berger. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Modos de ver é composto por sete ensaios que podem ser lidos em qualquer ordem, sendo que três deles usam apenas imagens. Ao todo, são utilizadas 155 reproduções de obras que hoje pertencem a acervos de importantes museus da Europa. Apesar de ser estruturado a partir de ponderações sobre a História da Arte, o livro transcende a sua função de pensar a questão estética e acaba fazendo o leitor refletir sobre a sua visão de mundo.

Meu ensaio favorito é o que fala sobre a representação da mulher nos quadros e na fotografia. O autor afirma que, diferentemente do homem, nas imagens estamos sempre dirigindo nosso olhar a um possível observador. Nos arrumamos, nos mostramos e nos exibimos não por uma questão funcional, mas, porque fomos educadas para a exposição.  Para pensar...

Dá-lhe Will Eisner

Narrativas gráficas: princípios e práticas da lenda dos quadrinhos. Will Eisner. São Paulo: Devir, 2008.

A obra discute os princípios da narrativa com a combinação sofisticada de texto e imagem. Apresentando exemplos utilizados na prática pelo próprio autor, além de artistas como Art Spieglman, All Capp, Milton Caniff e Robert Crumb, entre outros este tratado abrange as etapas da narrativa gráfica até uma visão mais ampla de suas aplicações. Embora as histórias em quadrinhos sejam o seu alvo principal, 'Narrativas Gráficas' também revela e ensina métodos que podem ser aplicados no cinema, na TV e na internet.

Um delicioso manual para quem curte o universo dos quadrinhos, escrito por um dos grandes mestres dessa arte. Bom para consultar e ter sempre ao lado, na cabeceira da cama.

Quadrinhos e arte seqüencial. Will Eisner. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

O livro baseia-se no curso que o autor ministrou por muitos anos na School of Visual Art de Nova Iorque e contém o acervo de suas idéias, teorias e aconselhamentos sobre a prática daquilo que ele conhece tão bem - contar histórias em quadrinhos. 

Esse eu achei também interessante, mas, seu foco é mais didático. O autor pretende ensinar os leitores sobre como produzir esse tipo de texto.  Novamente, o uso das relações entre palavra e imagens é primoroso.

A cor como informação: a construção biofísica, lingüística e cultural da simbologia das cores. Luciano Guimarães. São Paulo: Annablume, 2000.

Esse foi indicação de um amigo. Li só alguns capítulos, mas, aprendi coisas sobre as cores sobre as quais nunca tinha pensado.

Por exemplo, descobri que o vermelho é uma cor que chama nossa atenção porque seu comprimento de onda é o maior de todas as que conhecemos. Interessante, não?

O livro apresenta capítulos que abordam o tema em sua complexidade, mostrando considerações que esclarecem e enriquecem o repertório de todos aqueles que utilizam a cor na comunicação. Da exata delimitação da cor como informação cultural e suporte para a expressão simbólica na comunicação humana até a investigação dos processos de percepção e seus 'comportamentos' para a geração de sentido, o autor expõe um universo interdisciplinar, ancorado no que há de mais recente na bibliografia da Semiótica da Cultura e das Ciências da Cultura.

 

Lendo Imagens. Alberto Manguel. São Paulo: Cia das Letras, 2001.

Neste livro, Manguel passa ao largo do vocabulário árduo da crítica e defende a idéia de que os não-especialistas têm o direito de ler imagens como quem lê um texto. O autor narra histórias que se ocultam em pinturas, esculturas, fotografias e projetos arquitetônicos desde a Roma antiga até as arrojadas experiências da arte do século XX.

Ainda não li todo. Mas, como em sua outra obra História da Leitura é uma delícia acompanhar todas as informações dadas pelo autor através de sua narrativa fluente, cercada de ricas imagens e curiosidades sobre o tema.

O que é qualidade em ilustração no livro infantil e juvenil: com a palavra o ilustrador. Ieda Oliveira (org.) São Paulo: DCL, 2008.

Definir o que é qualidade em ilustração de livros de literatura infantil e juvenil não é tarefa fácil. No entanto, Ieda de Oliveira, doutora em Letras e especialista em literatura infantil e juvenil, reuniu um time de conceituados ilustradores brasileiros e portugueses para discorrer sobre o assunto, por meio de artigos e depoimentos. Uma obra-prima ilustrada pelas palavras dos artistas.O projeto gráfico do livro é lindo e, em cada capítulo um tema é abordado. No final, há um apêndice no qual alguns dos ilustradores mais conceituados tentam responder à pergunta que dá nome ao livro.

Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula. Angela Rama e Waldomiro Vergueiro (orgs.).São Paulo: Contexto, 2008.

Nesse livro, os autores provam que os antigos preconceitos com as histórias em quadrinhos não têm nenhum fundamento. Por meio de exemplos práticos e muitas sugestões de atividades, o livro inspira inúmeras possibilidades de trabalho com as HQs em diferentes disciplinas. 

Confesso que gostei mais das sugestões para a área de Linguagem. Mas, achei também bem interessante o uso que alguns autores fizeram desse texto em outras disciplinas.

A leitura dos quadrinhos. Paulo Ramos. São Paulo: Contexto, 2009.

O autor esmiúça os principais pontos da linguagem, dos mais básicos, como os diferentes formatos do balão, até aspectos mais complexos, como as estratégias de movimentação dos personagens e o papel da cor. O livro também dá detalhes as características dos diferentes gêneros que compõem os quadrinhos, como as tiras, o cartum, a charge e outras variadas formas de produção dessa forma de arte. Um guia bem feito para quem deseja conhecer mais e aprofundar sobre o tema.

Palavra e imagem: leituras cruzadas. Ivete Lara Camargos Walty, Maria Nazareth Soares Fonseca e Maria Zilda Ferreira Cury. Belo Horizonte: Autêntica

As palavras gerando imagens e as imagens gerando textos verbais, num processo de deslocamentos e condensações, metonímias e metáforas são, pois, o objeto desse livro que se propõe a instigar leituras críticas, em tempos e espaços diversos. Tradição e ruptura se articulam na prática de leitura tematizada na casa e na terra, com que as autoras ilustram suas reflexões teóricas, associando poemas, crônicas, notícias de jornal, letras de músicas, fotos, propagandas ilustrações. 

 

terça-feira, 21 de abril de 2009

AUTHORITY "SEM PERDÃO" e "SOB NOVA DIREÇÃO" - de Warren Ellis e Bryan Hitch

Imagine uma equipe de super-heróis diferente de tudo o que você conhece?

Ouse pensar em um grupo de pessoas que decide colocar "a casa em ordem" doa a quem doer.

Suponha que esse time seja liderado por uma mulher (Jenny Sparks) que representa o espírito do século. Nasce, morre e renasce a cada cem anos. 

Uma pessoa para quem o altruísmo dos super-heróis não pareceu suficiente para resolver os problemas da Terra, até o momento.

Para ajudá-la a seguir a diretriz "vilão bom, é vilão morto", nada menos do que um casal de super-poderosos gays (Apolo e Meia-Noite), uma mulher que pode criar tudo a partir da linguagem dos metais e das máquinas (Engenheira), um homem capaz de conversar com as cidades (Jack Hawksmoore), uma caçadora alada (Swift) e um xamã que traz consigo a sabedoria ancestral, ironicamente chamado de Doutor.

Pouca conversa. Nada de longas explicações. A partir de agora, SEM PERDÃO.

Numa Terra ameaçada por terroristas, eles decidem assumir o papel de uma autoridade superior e dar início a um processo de mudança que não terá mais volta. E quando a força criadora, que deu origem à vida da forma como conhecemos resolve pedi-lo de volta, tentando eliminar 6 bilhões de seres humanos que estão "infectando" o planeta, os caras simplesmente resolvem matar esse ser que é o mais próximo do que poderíamos chamar de deus.

Daí em diante, a Terra estará SOB NOVA DIREÇÃO! 

Quem nunca fantasiou em ter super-poderes e nas infinitas possibilidades que isso nos traria, que atire a primeira pedra.

Bom texto. Deliciosas tiradas de humor e imagens maravilhosas.

Material de primeira para quem curte histórias em quadrinhos e anda sentindo falta de "um sopro de ar fresco" nesse universo de tramas requentadas e mais do mesmo. 

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Muita pipoca!!

Foram dois meses sem postagens, muitos livros lidos e vários filmes assistidos.
Mas, por que nenhuma anotação no diário?
Simplesmente porque o ritmo foi frenético e a quantidade de informação processada não encontrava tempo para ser digerida e exposta.
Mas, prometo recuperar o tempo perdido!
Comecemos pelos filmes:

O LEITOR de Stephen Daldry

Baseado no livro de Bernhard Schlink, o filme conta a história de um adolescente que se apaixona por uma mulher mais velha e vive um romance povoado de encontro secretos e leituras diversas. Oito anos depois, eles se reencontram em um outro contexto, no qual ela está sendo acusada de participar de crimes nazistas. 
Mais uma vez, saí do cinema com a certeza de estar diante de uma das melhores atrizes da minha geração. Kate Winslet empresta a dignidade necessária ao personagem, com uma interpretação verdadeira e comovente.
Fiquei pensando sobre a importância das palavras, da leitura e ao valor de algumas coisas que, muitas vezes, só pode ser percebido por quem não as possui.
The reader, EUA/Alemanha, 2008. Dire: Stephen Daldry. Vi em 8 de fevereiro.

DÚVIDA de John Patrick Shanley
"O que você faz quando não tem certeza?"
Se minha terapeuta ainda estivesse viva, talvez me respondesse, com em tantas outras vezes: "Se não sabe o que fazer, não faça nada."
O filme é maravilhoso e nos faz sair do cinema pensando que talvez o que torna uma obra cinematográfica inesquecível, sejam as boas histórias e excelentes atores. Nada mais.
Só pelo "duelo de gigantes" entre Meryl Streep e Philip Seymour, já valeria à pena dedicar alguns minutos para apreciar essa obra. Juntando a tudo isso um roteiro inteligente que nos faz pensar sobre a diversidade de pontos de vista e o quanto de injustiça podemos cometer quando não conseguimos nos colocar no lugar do outro, o filme se torna, simplesmente, imperdível.
"A dúvida pode ser um elo tão encorajador e certeiro quanto a certeza"
Doubt, EUA, 2008. Dire: John Patrick Shanley . Vi em 14 de fevereiro.

CORALINE de Henry Selick , baseado na obra de Neil Gaiman.
O filme é uma fábula de terror que conta a história de uma adolescente entediada em sua nova casa, cansada da falta de atenção de seus pais. Em uma de suas explorações pela vizinhanca, ela descobre uma passagem secreta para um outro mundo, onde encontra uma "outra família" que, supostamente, lhe dará a atenção que tanto deseja.
Sendo do mesmo diretor de outro filme que eu adoro "O estranho mundo de Jack" e baseado na obra de um dos meus escritores contemporâneos favoritos, fica bem difícil não emitir vários elogios: o visual é espetacular, a animação - toda feita em stop-motion -  é a primeira desse tipo em 3D, a trilha sonora é um capítulo a parte e a trama, um convite à fantasia no melhor estilo Lewis Carroll. Imperdível! 
Coraline, EUA, 2009. Dire: Henry Selicks. Vi em 18 de fevereiro.



A TROCA de Clint Eastwood
Para começar, é do Clint Eastwood ou "Clintão", para os mais íntimos. Até hoje, tenho acompanhado todos os filmes dirigidos por ele sem nenhuma decepção. 
O bom cowboy americano sempre trata de temas nada fáceis e não poupa o público de sair do cinema com milhares de perguntas e, muitas vezes, extremamente incomodado.
Ainda não sou mãe. Mas, imagino que talvez não haja dor maior no mundo do que a perda de um filho. E quando essa perda vem cercada de mistério, brutalidade e descrédito... a vida não se torna nada fácil.
Não dá para sair do cinema sem pensar na dualidade que é ser humano. Na possibilidade de roubar de outro aquilo que lhe é mais precioso e, por outro lado resgatar e oferecer abrigo aqueles que precisam apenas de alguém em quem confiar.
Sensível. Inteligente.
Destaque para a atuação de Angelina Jolie (que deve ter chulé ou bafo, porque além de linda, excelente atriz, ainda é esposa do Brad Pitt) e para o garoto que ajuda a desvendar toda a trama: ainda vamos ouvir falar muito desse menino!
Changeling, EUA, 2009. Dire: Clint Eastwood. Visto em 21 de fevereiro. 

WATCHMEN 
de Zack Snyder
Depois de seis semanas conversando sobre a poética dos quadrinhos, era de se esperar que eu estivesse aguardando ansiosamente por essa estréia. Embora, esteja lendo a história apenas agora, já sabia que essa é considerada uma das melhores graphic novels dos últimos anos. 
Alan Moore, autor da obra, mais uma vez, se opôs à adaptação da mesma para o cinema. E têm suas razões.
No entanto, contra tudo e contra todos, fui lá conferir e gostei bastante. Achei um pouco longo e talvez tenha faltado mais ritmo a algumas cenas. 
Agora, nessa última semana, quando estou terminando de ler a história original, dá para entender porque o texto é tão cultuado.
Para quem costuma dizer que HQs são um tipo de narrativa menor ou não são para adultos, sugiro que leiam a saga. Se isso não for literatura da mais alta qualidade... creio que estaremos todos muito enganados!
Watchmen, EUA, 2009, Zack Snyder. Vi em 8 de março.

QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO ? de Danny Boyle
Ainda não entendi porquê esse filme ganhou 8 Oscars... Todos sabemos que é uma premiação tendenciosa, elitista etc etc.
O longa é bom, o roteiro é bacana, os atores também mas, 8 Oscars! Para mim, foi demais!
Opiniões pessoais à parte, os contrastes entre a miséria e a riqueza em outro país que não seja o nosso revelados pelo filme, me mostraram o quanto ainda estamos longe de uma sociedade mais humana.
Confesso que fiquei incomodada.
Talvez porque estejamos - em parte - anestesiados e as diferenças sociais que nos afrontam todos os dias  e são pouco a pouco,  naturalizadas... Ou porque nos contentamos em partilhar a alegria de apenas um "favelado" que - da noite para o dia - torna-se milionário e, com isso, sejamos levados a esquecer os milhares de miseráveis que sustentam essa pequena riqueza.
Slumdog Millionaire , EUA/Inglaterra, 2008. Vi em 14 de março.

Nesses últimos dias, fiz uma pausa nos cinemas. Logo, logo, contarei as aventuras que andei experimentando no mundo da leitura de livros que falam sobre imagens.
Aguardem!